Cultura 03/03/2021

Lisboa Menina e Moça dá mote a mural de homenagem a Carlos do Carmo

Lisboa Menina e Moça, fado que é, desde o desaparecimento de Carlos do Carmo, a canção da cidade de Lisboa, foi o mote do artista Mário Belém para o mural de homenagem que a Junta de Freguesia de Alvalade dedicou ao fadista, e ilustre freguês de Alvalade, e que pode ser apreciado na fachada da Biblioteca Manoel Chaves Caminha, na Avenida Rio de Janeiro.

Os olhares curiosos adensaram-se nos últimos dias, com as imagens a surgirem nas redes sociais e despertarem variadas interpretações. Mário Belém, que trabalhou vários anos como ilustrador e designer, é já um reconhecido autor de murais e quis fugir ao óbvio nesta obra, deixando de lado a “varina”, substituindo-a por uma menina e moça sentada numa pilha de livros. Este elemento de street art completa assim a fachada deste equipamento cultural de Alvalade, que está agora coberta de símbolos da cidade, entre os quais se destacam pormenores como um vinil de Carlos do Carmo, um manjerico, elétricos, um corvo, um Santo António e outras referências a monumentos como a Torre de Belém.

A obra demorou seis dias a ser executada, com Mário Belém a recorrer a 32 litros de tintas de várias cores. Este é o 17.º mural da Rota de Arte Urbana da Junta de Freguesia de Alvalade, que tem executado este tipo de obras um pouco por todo o território.

Carlos do Carmo de Ascensão Almeida, ilustre Freguês de Alvalade, nascido a 21 de Dezembro de 1939, em Lisboa. Com mais de 50 anos de carreira, Carlos do Carmo marcou, de forma indelével, o panorama cultural português.

Mereceu, em vida, inúmeras distinções e condecorações, das quais se destacam o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1997), o grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito (2016) e a Medalha de Mérito Cultural (2019). A sua ligação à Cidade de Lisboa, que tanto cantou, materializou-se ainda na atribuição da Chave da Cidade, honraria até então reservada a Chefes de Estado (2019).

Fadista notável, unanimemente aclamado pelo público e pela crítica, atuou nos principais palcos mundiais, sendo o Olympia, em Paris, a Ópera de Frankfurt, o ‘Canecão’, no Rio de Janeiro ou o Royal Albert Hall, em Londres, alguns deles. Em 2014, viu-lhe ser atribuído o Grammy Latino “Lifetime Achievement Award”.

Ao longo da sua carreira de fadista, Carlos do Carmo cantou poemas de grandes nomes da música e da literatura. Mas o legado de Carlos do Carmo perdurará, sobretudo, nas novas gerações do fado, como Mariza, Camané, Ana Moura, Aldina Duarte, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Ricardo Ribeiro, Marco Rodrigues, Raquel Tavares, Carminho, entre muitos outros. Acompanhou e acarinhou compositores, poetas e interpretes na aproximação a novos públicos.

A 4 de janeiro de 2021, poucos dias após o desaparecimento de Carlos do Carmo, Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, declarou o fado “Lisboa Menina e Moça”, eternizado na voz do fadista, como a canção oficial da cidade de Lisboa.